A ausência do mestre: a última etapa do discipulado.
O aprendizado dos discípulos durou aproximadamente três anos. Obviamente que não há como comparar seu treinamento com nenhum outro, visto que conviveram diariamente, intensamente, pessoalmente, com o próprio Deus durante todo esse tempo. Ao final desse período, eles ainda não estavam prontos. Surpreso? Parece contraditório afirmar que Jesus Cristo voltou ao céu e deixou seus apóstolos para continuarem sua obra sem ter finalizado seu treinamento? Não, não há nenhuma contradição nisso. Não dissemos que ele não havia concluído o treinamento, dissemos que eles ainda não estavam prontos. E não é a mesma coisa? Claro que não. O Messias concluiu sua etapa. Finalizou seu trabalho com perfeição. Mas há um nível em todo discipulado que devemos atingir por nós mesmos. Depende de como vamos colocar em prática aquilo que aprendemos de nossos mentores, e Jesus sabia disso. Você pode ensinar um homem a usar tintas, misturar as cores para conseguir o tom adequado, manejar um pincel, e orienta-lo na execução de um trabalho. Mas só saberemos mesmo se ele aprendeu o ofício quando estiver sozinho, diante de uma parede, sob os olhos desconfiados de estranhos que não estão ali para ser condescendentes com sua falhas. Os discípulos viram, ouviram, pregaram, oraram, expulsaram demônios, curaram enfermos, tudo ali, sob a supervisão do Mestre. Agora precisavam caminhar com as próprias pernas, para finalizar seu treinamento.
O êxito de um verdadeiro discipulado só pode ser observado na ausência do mestre. E é aqui que muitos deles - mentores - se perdem, em meio a empolgações e sinceridades ilusórias, demonstradas em suas presenças, mas que desparecem quando seus discípulos estão sozinhos. Como Pedro se comportaria na ausência de Jesus? Continuaria agressivo, impetuoso, inconsequente? E Tomé, permaneceria incrédulo? Em sua Carta aos Gálatas, Paulo mostra que Pedro ainda oscilava, buscando o politicamente correto, o ambiente favorável, o lugar receptivo. Foi devidamente repreendido exatamente pelo apóstolo que fez o caminho inverso, o da dificuldade, da renúncia, do sacrifício. O treinamento de Pedro teve duração mais longa do que o de, pro exemplo, Tiago e João. Culpa de quem? Se você acha que do próprio Pedro, você acertou.
Não surpreende que os discípulos que deixaram maior legado tenham sido Paulo e João. O primeiro, sequer conviveu com Cristo. Mas abdicou e renunciou a tanta coisa, abraçou com tanta veemência seu chamado, que não foi nenhum dos doze que deixou a herança doutrinária que hoje regulamenta a igreja neotestamentária, mas sim ele, Paulo de Tarso. Enquanto que João, enquanto os outros ganhavam o mundo pregando o Evangelho, cuidava de Maria na ausência de seu filho, que estava no céu, assentado à destra do Pai. Paulo recebeu a última doutrina. João a última revelação. Que sirvam de exemplo para discípulos que pensam em um dia tornarem-se mestres.
Neto Curvina
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