Religiosos? Sim, por que não?



Há um jogo de palavras muito sutil e perigoso no meio cristão, especialmente o evangélico. Este jogo é baseado em conceitos vagos e abstratos, interpretados de acordo com a visão pessoal de cada um, e que, curiosamente convergem para o mesmo lugar comum. Se isso acontece por acaso ou não, é outra história. Termos como "religioso" e "religião" tornaram-se quase malditos nos dias atuais, sendo que, muitas vezes, por trás das visões que os combatem não encontramos exatamente o que deveríamos encontrar: vidas religiosas do ponto de vista bíblico. 

Afirmações vazias como "Sou cristão, mas não sou religioso" afinal querem dizer o quê? 

Na maioria dos casos, quem defende esse tipo de posicionamento, tem forte influência relativista, ou seja, vive um evangelho "próprio", com suas próprias regras, fazendo aquilo que entende ser o certo, desenvolvendo uma espécie de auto-suficiência espiritual, e, por não se submeter a situações fartamente contempladas nas Escrituras, se classificam como "não religiosos". No fundo, tudo não passa de falácia. 

O Evangelho moderno, esse pouco ortodoxo que tem sido pregado, cheio de interpretações pessoais, faz de tudo para suavizar a mensagem da cruz e, pior, não tem sequer explicado as complexidades do que ela - a cruz - é. É uma mensagens sem "nãos", como se estivéssemos pregando para meninos mimados e mal criados, que não podem ouvir uma resposta negativa ou uma proibição. "Deus só quer o coração!" - bradam. Uma pregação doce, agradável, palatável, digerível. Tudo o que a cruz não é. Apresentam um Deus que não pune (Aquele que punia era o do Antigo Testamento, o do Novo é outro, diferente), não castiga, não ajusta contas. 

Quando Cristo resumiu toda a Lei em dois mandamentos, ele resumiu, ao mesmo tempo, a mensagem da cruz: viver para Deus e para o próximo, negando-nos a nós mesmos. Será que os que vivem chamando os outros de religiosos levam esse tipo de vida? Duvido. Quase todos os que conheço, os "santões" que desprezam o ordenamento das Escrituras, até se esforçam para se manter na presença de Deus, mas suas mãos estão vazias do segundo mandamento mais importante. Vivem bradando "Estou em paz com meu Deus!", mas onde estão os órfãos e as viúvas que eles têm cuidado? Onde estão os enfermos que têm visitado? Vocês não os encontrará. E sabe o porquê? Porque a engrenagem de Deus funciona através de um corpo, e esse corpo de chama igreja. E ela tem normas bem definidas pela Palavra de Deus. Normas que os "não religiosos" fingem não ver, porque no fundo, no fundo, eles nunca se sentiram confortáveis em se submeter a elas.

Sou religioso. A palavra, em seu sentido hebraico, aponta para adoração e serviço. Na versão grega, indica "serviço religioso", "disciplina", "cerimônia ou culto". Seu significado latino aponta para o relacionamento com Deus. Tiago amplia isso, incluindo o relacionamento com os menos favorecidos praticamente no mesmo patamar, seguindo a linha de raciocínio de Cristo, que dizia "Um segundo mandamento, semelhante ao primeiro...". 

Quando você for acusado de ser um religioso, não ligue. Como em tudo nesta vida, há os bons e os ruins. E ser um bom religioso, biblicamente religioso, é um privilégio para poucos. Chega de relativismo e suavização das Escrituras. Ela é uma espada, não um espanador. 

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